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Fé, encantamentos e rua: Para Ogum. Para Jorge, por Thábata Castro

A primeira vez que fotografei a festa de São Jorge foi em 2007, como um trabalho de campo da matéria Arte e Antropologia, da grade curricular da graduação em História da arte/UERJ. Não me nego a dizer que há em mim um antes e depois deste acontecimento. Primeiro essa apresentação se deve a Carla Ramos, minha primeira professora negra da graduação, de um total de 2! Apesar de carioca, festa de São Jorge pra mim era apenas o foguetório que me acordava no susto e tomava conta do céu na virada do dia 22 para 23 de Abril, e que hoje na zona sul do Rio de Janeiro quase não se ouve mais. Do festejo nunca havia participado, o que muito me espantou primeiro por ser frequentadora assídua do Saara região onde se encontra a Igreja de São Jorge e São Gonçalo e segundo porque é justamente nela que se realizada uma das festas tradicionais em homenagem ao santo. Pois bem, o que vi ali foi uma coletividade que me interessou desde então. Que fala sobre fé, crendices populares, sincretismos, afro religiosidade, sambas, macumba, encruzilhadas, e um cristianismo atravessado por tudo que lhe foi permitido com o processo colonizador. Os signos religiosos estão presentes em vias públicas. Entidades e personagens pertencentes aquele universo tomam conta de um espaço que antes era genuinamente comercial. Passei a frequentar por vários anos seguintes, levando amigos, em horários diversos, virando madrugadas até chegar à alvorada. Registrando um complexo universo que tem de militares a contraventores, pessoas que pedem para não serem fotografadas, atabaques atravessando instrumentos de sopro, pagadores de promessas…. há um encantamento enriquecido pelo sincretismo religioso, São Jorge/Ogum e é esse encantamento que tento captar em minhas imagens.