A história do negro no Brasil foi marcada por grandes acontecimentos, lutas e resistências mas a memória do país sempre foi curta e seletiva. Apesar do oficial e justo reconhecimento de Zumbi dos Palmares, muitos dos grandes artistas e líderes continuam ignorados e a história ainda privilegia a folclorização da cultura afro-brasileira.
No mundo, movimentos como os de libertação dos povos africanos nas décadas de 70 e 80, de Martin Luther King e os Panteras Negras nos EUA e da longa luta contra o apartheid na África do Sul – o que levou Nelson Mandela a dimensão de líder mundial – tiveram forte repercussão. Por aqui, surgiram importantes ações nas décadas de 40 e 50, tais como a Frente Negra Brasileira e o Teatro Experimental do Negro, de Abdias de Nascimento. Na década de 70, pensadores como a socióloga Lélia Gonzales e a antropóloga Beatriz Nascimento modernizaram o pensamento afro-brasileiro. Nesta época, nasceu o MNU (Movimento Negro Unificado), o IPCN (Instituto de Pesquisa das Culturas Negras), os Filhos de Ghandi, o Renascença Clube no Andaraí, o Jongo da Serrinha e a escola de samba Quilombo, de Mestre Candeia. Apareceram também os blocos afros de Salvador: Ilé Aiye, Malé Debalé, Araketu e Olodum, seguidos no Rio de Janeiro pelos blocos: Axé Terê Baba, Agbara Dudu, Dudu Odara, Filhos de Dã, Lemi Ayô, Orunmilá, etc. Naquela época a estética black era o eco visual da política de libertação, dos cabelos à roupa, na música e maneiras de dançar, do James Brown ao Charme, do Soul ao Afoxé.
Já no início da década de 80, apareceram produtores atentos à toda esta movimentação e capacitados para registrar essa efervescência: Ras Adauto e Vik Birkbeck fundaram a Enúgbarijo Comunicações, que levou o nome do exú messageiro, a Boca Coletiva. Filó Filho e Carlos Alberto Medeiros fundaram a Cor da Pele Produções, além do conceito Griot, via Quilombo Eletrônico. Com o advento das primeiras câmeras de vídeo portáteis e independentes, percorreram toda cidade do Rio de Janeiro, onde eram facilmente avistados pelas ruas, morros, avenidas, salões, além de passarem pelo Clube Palmares de Volta Redonda e filmarem os agitos nas cidades de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. O resultado é um gigantesco acervo de material em vídeo.
Hoje, com a revolução digital surge a oportunidade de disponibilizar todo este registro ao grande público, contribuindo de maneira efetiva para a interatividade com as gerações atuais e vindouras, sintetizando uma parte da história brasileira, que até pouco tempo era escamoteada ou ignorada por grande parte da sociedade brasileira. Atualmente, é possível gravar a história, editar rapidamente o conteúdo, jogar na rede e propagar a mensagem para todos, acesse Cultne para visualizar uma vasta produção audiovisual.
Fonte: Cultne